top of page

Região cacaueira, história e tradição

Mercado se destaca de forma sustentável pela alta qualidade

O parisiense Mathieu Laurent Hourcade chegou em 90 na Bahia para conhecer Itacaré. Logo depois ficou atraído pela preservação ambiental de Serra Grande. No vale do rio Tijuipinho encontrou um sítio que se chamava Santa Tereza. “Escolhi conservar o nome em homenagem a Maria Tereza, rainha da França, que deixou famosa uma preparação de bebida quente de cacau e iniciou o interesse do cacau na Europa”.

 

No início do negócio ele torrou, moeu, fez cocada de cacau e os resultados despertaram atenção para criar qualidade ao produto. Após 20 anos produzindo chocolates a frente da marca Cacau Santa Tereza, Mathieu cita: “Comecei a temperar a massa para chocolate há uns 10 anos e iniciei no processo do cacau cru para alcançar uma atração pelo produto regional numa nova proposta de chocolate, não torrado”.

 

Pioneiro no segmento, Hourcade atua na linha ‘tree to bar’, do plantio a barra de chocolate. “Nesta busca entrei na cooperativa cabruca de produtores de cacau orgânico para melhorar as técnicas de produção orgânica e recebi certificação do instituto biodinâmico”, destaca.

 

Programa de formação

Atuar no ramo do cacau não basta ter apenas desejo, mas se aperfeiçoar nos estudos. Fundada em Canela (RGS), a Castelli Escola de Chocolataria, primeira do gênero no país, forma profissionais para o mercado. A diretora da instituição, Silvana Castelli, endossa sobre o corpo docente. “Na modalidade online, híbrida, presencial ou vivencial, contamos com uma equipe de professores referendados vindos de todo o Brasil”.

 

Articuladora de projetos na área da chocolataria, Silvana diz que o mercado é promissor. “As regiões produtoras de cacau no Brasil, como Pará, Bahia e Espírito Santo estão se reinventando. Isso aumentou a autoestima e a qualidade de vida dos produtores, fazendo com que surgisse um novo momento de venda de amêndoas e de crescimento das rotas turísticas do cacau”, avalia.

 

Sul da Bahia

Em consonância com a opinião de Castelli, o idealizador do Chocolat Festival, criado em Ilhéus em 2009, Marco Lessa, reforça que o setor vem se consolidando. “Estamos em franco crescimento com o surgimento de novas marcas, aumento de novos produtos das marcas existentes, incríveis, derivados de cacau, melhoria da matéria prima com mais oferta de cacau de qualidade”, detalha. Quanto à falta de recursos para capital de giro e investimentos em marketing ou de custo logístico para exportação de pequenos volumes, Lessa enfatiza: “Continuem a sonhar e sonhar grande, que não tem relação direta com ser grande ou faturamentos absurdos em curto tempo; isso é consequência. Mas sonhar em conquistar pessoas e mercados em várias partes e ter o seu produto com o devido valor reconhecido. Os consumidores querem produtos com verdade, com história, saudáveis, especiais, como produtos e por quem o faz”, vislumbra.

 

Vantagens do setor

Através de financiamento articulado pela Tabôa, que fomenta iniciativas de bases comunitárias em Serra Grande, mais de 150 agricultores familiares do sul da Bahia foram beneficiados pela linha de crédito rural através do certificado de recebíveis do agronegócio sustentável. Os recursos mobilizados de investidores e organizações filantrópicas totalizaram R$ 1 milhão, com expectativa de mais R$ 5 milhões em 2021.

 

O diretor executivo da Tabôa, Roberto Vilela, reforça que a intenção do fundo, foi buscar e ampliar o financiamento através de linha de crédito acessível a pequenos produtores, que enfrentam dificuldades em financiamentos convencionais. “Passamos quase dois anos discutindo e desenhando uma estratégia que fosse viável e sustentável. Era importante construir uma solução que gerasse benefícios socioeconômicos, mas também ambientais”, esclarecendo que os recursos foram destinados para agricultores de oito municípios onde um dos diferenciais do cultivo fosse através do sistema de cabruca, feito à sombra de árvores nativas

 

As origens do cacau

O mercado e as suas especificidades

​

Com a missão de edificar o conhecimento sobre o cacau, a gerente de qualidade do Centro de Inovação do Cacau (CIC), Adriana Reis, doutora em biotecnologia de microrganismos, que auxilia produtores que buscam qualidade e acesso a mercados especiais, reflete quanto à expansão comercial e a genética das amêndoas.

 

Como avalia a evolução do negócio do cacau no sul da Bahia?

​

Adriana Reis – Ainda focado no mercado de cacau ‘bulk’ de qualidade inferior, sem agregação de prêmio. Porém, nos últimos anos, com trabalho de valorização e reconhecimento da região como um lugar que produz um produto singular, que é o cacau cabruca, com modo de fazer único, ligado a uma rica história de tradição em sustentabilidade e qualidade, protegida geograficamente pelo instituto nacional da propriedade industrial, como uma indicação geográfica de procedência, assim como o Vale dos Vinhedos (RS) e o café do Cerrado Mineiro (MG). O sul da Bahia tem atraído cada vez mais empresas que estão interessadas em contar esta história. Valorizando e incentivando o trabalho dos produtores da região, através de prêmios pagos pela qualidade, apresentado em uma saborosa e intensa barra de chocolate, que explora o que temos de melhor aqui, que é a nossa “agrobiodiversidade”

 

Quantas espécies e quais as procedências do cacau que existem no sul da Bahia?

 

Adriana Reis - Nosso cacau tem origem no cacau amelonado, reconhecido como forastero, que veio do estado do Pará e encontrou aqui um ambiente propício para se desenvolver. Com a introdução da vassoura de bruxa precisou-se criar uma base genética mais resistente a pragas, doenças, insolação e maior produtividade. Nossa genética tradicional foi cruzada com um tipo descendente de Trinidad e Tobago, chamado de trinitário. Estes possuem um pai ou uma mãe com descendência criollo, um tipo muito aromático cultivado no México e na Venezuela e considerado fino. Isto possibilitou mudança genética dos tipos cultivados aqui nos últimos anos, de forma pratica e visual, são os cacaus avermelhados, onde antes nas roças da região predominavam frutos verdes e amarelos, quando maduros. Hoje temos uma lista de mais de 13 clones recomendados muito bem difundidos na região, com bons resultados de produtividade e resistência.

ANA LEE 2.jpg
bottom of page