Pesca artesanal
Jangadeiros obedecem as regras das marés, regimes de ventos e sazonalidade da pesca.
Faça sol ou chuva os jangadeiros que são pescadores artesanais e utilizam as jangadas saem cedinho para desenvolver o seu principal meio de vida a pescar. Apoiados numa embarcação com espaço de cinco a sete metros e tripulação de dois a quatro pescadores, eles só não partem se a maré estiver em condições desfavoráveis.
As idas para o mar são diurnas com distanciamento de cinquenta a cem quilômetros da costa com a jangada levada pela força do vento ou impulsionada pelo motor. O trabalho que requer atenção e paciência comumente é a principal atividade econômica destes profissionais.
Com vinte cincos anos de profissão, Anailton Conceição Santos, 39 anos, nascido na Nossa Senhora de Fátima, Rua do Campo, em Serra Grande, o popular Nanico, reconhece a tradição de seu oficio. “A gente sai quando o mar permite. Não tem hora nem dia. Chegamos à praia as quatro ou cinco horas da manhã. Voltamos no final do dia. Somos os heróis desta cultura artesanal”.
Nanico revela que muitas vezes não volta com o resultado esperado. “No verão dá o dourado, vacora e cavala e respeitamos os tamanhos dos pescados para não minguar. Antes a gente pegava bastante peixe. Hoje está fraco, mas somos pais de famílias e temos de ir para a batalha”, justificando que tem um filho e que antes da pandemia complementava a renda como encanador.
Sul da Bahia – As jangadas feitas de troncos que até os anos quarenta eram presentes em todos os estados nordestinos, atualmente encontram-se restritas aos estados do Ceará e Bahia. Por aqui, elas estão compreendidas entre Serra Grande, Itacaré e Canavieiras.
Por conta da falta de interesse dos mais jovens de seguirem a profissão de seus pais e avôs ou mesmo pela escassez dos pescados, outra dificuldade que os jangadeiros encontram é quanto à ausência de incentivo para a confecção de jangadas. “O Ibama proibiu a retirada da madeira que a gente fazia a embarcação, ela agora é tombada. A coisa dificultou não temos condições de comprar um barco. Mas o meu prazer está dentro do mar, quando pego o peixe, fico feliz, por isso continuo pescando”, declara Nanico.
Diógenes Alberto de Souza Santos, 28 anos, conhecido como Coió, que pesca desde os dez anos, conta que em Serra Grande deve ter entre quinze a dezoitos pescadores deste tipo de embarcação. Ele que se divide trabalhando com carpintaria, produzindo móveis rústicos, aprendeu com o pai a fazer jangadas.
“A construção dura de quinze dias a um mês, até o momento de secar madeira e não pode ficar pesada ou leve demais. A madeira usada é o pau de jangada ou a muanza. Ela é feita de seis paus e dura em média de três a seis anos, mas isso depende da manutenção dada à embarcação”, revela.
Nascido e criado na Vila, Coió endossa: “O mar não é para qualquer um. Tem de se dedicar para ele. Saber quem é que é ele. Com o decorrer do tempo me identifiquei demais com a pesca. Aprendi as técnicas na praia e logo depois fui estrear com os mais velhos, vendo como se pega peixes grandes”, lembra.