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Poder da terra de se regenerar

Cuidados incluem respeitos aos ciclos naturais e detalhes específico

A natureza tem um grande poder de renovação mesmo quando os impactos de extração, perda de biodiversidade e poluição são efetivados no solo. No entanto, para recuperá-lo isso depende quase sempre de informações para desenvolver práticas ecológicas, fazer intervenções técnicas ou mesmo obter financiamentos públicos.

Responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo, a pesquisadora

da agroecologia e da agricultura orgânica, Ana Primavesi, registra que os cuidados com a terra são vitais para o bem estar da existência: “O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas bem

nutridas”.

 

Essa ideia pode aparentemente ser simples, mas sugere profunda reflexão. Afinal, o que seria do nosso corpo sem a generosidade da natureza? A resposta pode até variar, mas inevitavelmente gira em torno da importância e da colaboração entre as pessoas em respeitar o meio ambiente.

A agricultora agroflorestal Gudrun Götsch, 36 anos, nascida no município de Piraí do Norte, que fazia parte da cidade de Ituberá, baixo sul baiano, foi criada dentro de uma área de agrofloresta, por ser filha do suíço Ernst Götsch, fundador da agricultura sintrópica. Com a premissa do conceito de natureza integral, ela que trabalha plantando comida aprende sempre mais sobre os desafios e as vantagens da agrofloresta: “Quando a tratamos com respeito e amor, ela é muito generosa, mas quando usamos violência e atos destrutivos, ela não deixa de ser generosa, mas vai tirando do nosso alcance as coisas que prezam, assim como os recursos, nutrientes e produção”.

Como um dos principais beneficiamentos do solo é a nutrição, Gud como é conhecida por amigos e familiares, explica como são realizados alguns princípios de agrofloresta. “Plantando, podando e manejando de forma inteligente e com plantas

chamadas adubadeiras. Elas têm rápido crescimento e aceitam várias podas por ano, assim promovem o crescimento de todas as espécies plantadas, deixando de quebra cobertura verde para o solo e os microorganismos, que irão transformar tudo em micronutrientes disponíveis para as plantas, criando assim o solo preto”, diz a produtora de frutas desidratadas que gosta de cozinhar e faz parte da Rede Povos da Mata.

Restauração

Desde que o homem desenvolveu maneiras de cultivos há cerca de 10 mil anos como atestam estudiosos, criando a agricultura para saciar a fome, os desafios de produção de compostos, minerais, orgânicos, água e o crescimento de raízes vieram lado a lado ao uso dos solos. Do campo as migrações, do crescimento das vilas, cidades, dos grandes centros urbanos industrialização, em todas as fases, os retrocessos e os aperfeiçoamentos avançaram frentes aos cuidados com a terra.

Com mais de dez anos dedicados à educação ambiental e com pós-graduação em fertilidade, manejo de solos e nutrição de plantas, o administrador Otávio Torrão, 41 anos, avalia que a restauração passa pela recuperação das capacidades do ambiente de cada terra. “Significa elevar o nível da sucessão natural de sua microbiota e da sua riqueza de nutrientes a uma escala seguinte mais abundante desses elementos. Regenerar significa também fixar carbono no solo, o que provoca o retorno dos nutrientes e das águas”.

 

Os sistemas regenerativos muitas vezes não têm custos mais elevados que os convencionais, entretanto, Otávio cita que um dos entraves é que o reflorestamento com plantas nativas possui baixo subsídio e a despesa do plantio acaba alta para o proprietário da terra. No caso de aporte público, ele é taxativo: “São muitos baixos os incentivos de empréstimos bancários para o agricultor cadastrado. Estão ligados a práticas ditas da revolução Verde, com uso de veneno e adubos químicos, o que dificulta para os agroecológicos, que querem trabalhar com sistemas regenerativos, a conseguirem financiamento para áreas maiores e mecanizadas”.

Da terra para a mesa

Cada vez mais o cultivo de verduras e hortaliças são produzidos em residências e sítios como forma de manter por perto comidas frescas e saudáveis, sendo estes modelos simples de regeneração do solo.

 

Com contato desde a infância com a produção de alimentos, Joselice Pinto de Jesus, a popular Jô, proprietária do Pão da Horta, em Itacaré, diz que esta relação é um investimento pessoal e profissional. “Hoje, produzimos pães com coloração natural à base de produtos e especiarias colhidas no quintal de casa”, diz.

 

Ela que era chef de cozinha em rede hoteleira antes de atuar na área da panificação, avalia ser possível começar num pequeno canteiro e depois partir para uma extensão maior. “Nossa linha vai do mais simples ao diferenciado. Estamos constantemente testando novas espécies e respeitando o tempo da terra e a ação da natureza”, falando que seu plano de negócio propõe trocas com os clientes de potes de vidros e faz reaproveitamento de embalagens.

De flor em flor

O mel é o extraordinário alimento produzido pelas abelhas, as pequenas operárias

voadoras. No Brasil são mais de 200 a 250 espécies capazes de produzir o fluido açucarado, viscoso de cor marrom ou amarelo, conforme dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

 

Vistas na natureza, elas são heroínas, porque, além de prestarem um serviço fundamental: a polinização, contribuem para a reprodução das plantas, sendo regeneradoras florais da terra. Os meliponários, que são conjuntos de casas de abelhas sem ferrão, são vistas atualmente em sítios e áreas rurais. “Sou criador e recomendo a criação das abelhas sem ferrão o mais perto possível da residência pelo fato de possuírem ferrão atrofiado e ser de fácil manejo”, explica Welton Clarindo, capixaba, que mora há 25 anos em Ilhéus.

 

Técnico em zootecnia, Welton menciona que a estrutura de abrigo de abelhas requer cuidados de exposição ao sol e a chuva: “Fazer manejos simples no inverno e no verão é importante, mas que não comprometa as alimentações energéticas e proteicas delas e futuramente realizar divisões e ampliação do meliponário”, diz o graduando em gestão ambiental, indicando que as espécies mais comuns de abelhas sem ferrão na região são as melíponas, uruçu amarela, manduri, trigonas, jataí e mandaguari.

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